Em Itália, uma equipa médica do Hospital Universitário de Pisa, conseguiu transplantar com sucesso, um fígado proveniente de uma dadora com mais de 100 anos. É a primeira vez na história, que um fígado provém de uma pessoa centenária. Em entrevista à RFI, João Santos Coelho, membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Transplantação e cirurgião sénior do centro Hepato-bilio-pancreático e Transplantação no Centro Hospitalar Universitário Central de Lisboa, defende que este passo se trata de um avanço gradual por parte da ciência, com o objectivo de diversificar cada vez mais o leque de dadores disponíveis. "É um avançar progressivo na utilização de fígados marginais. Em todos os centros, a evolução tem sido dramática em termos da utilização de fígados marginais, ou seja, fígados um pouco fora dos critérios que habitualmente utilizamos. Como é sabido, em todo o mundo, há efectivamente uma procura sistemática de todas as formas para podermos aumentar o pólo de dadores porque não temos dadores para todos os doentes que gostaríamos de transplantar e muitos deles acabam por falecer em lista activa", começou por referir o nosso entrevistado. João Santos Coelho reconhece que esta procura pela diversificação de dadores tem vindo a acontecer ao longo dos anos e recorda que, no início da transplantação, em Portugal, no final dos anos 90, início dos anos 2000, o dador era homem, na casa dos 40 anos, e, geralmente, alguém que tinha sido vítima de um acidente de viação. "Nos dias actuais, a caracterização dos dadores fixa-se nos 63 anos, em média, e são pessoas que foram vítimas de acidentes vasculares cerebrais, na sua maioria", explicou. Esta pesquisa e procura por mais dadores levou a que se utilizem fígados com mais idade, nos processos de transplantação, conforme recordou o cirurgião sénior. "No nosso hospital é muito frequente utilizarmos dadores com 80 anos e já transplantámos, inclusivamente, um dador de quase 90 anos. Aqui não é tanto a idade cronológica que conta", salientou. Questionado sobre se o tempo de vida útil do órgão não é, de certo modo reduzido, pelo facto de, neste caso, se tratar de uma dadora centenária, João Santos Coelho é peremptório: o fígado está "programado" para funcionar até aos 150 anos. "Nós verificamos isso nos longos sobreviventes. Temos sobreviventes com 30 anos, que, neste momento, foram transplantados com fígados de 60/70 anos que, neste momento, têm um fígado a funcionar com mais de 100 anos", explicou ainda. João Santos Coelho entende, por isso, que este feito mostra o avanço eficaz e gradual que tem sido feito nos últimos anos na área da medicina. O profissional da área da saúde falou depois, à margem da entrevista, de dois cenários possíveis que considera que, a médio/longo prazo, poderão revolucionar a área da transplantação do fígado: em primeiro lugar, a transplantação de um fígado geneticamente modificado, proveniente de porcos e, em segundo, o fígado artificial, feito em laboratório, com recurso a células da própria pessoa. Ouça a entrevista completa aqui:
Em Itália, uma equipa médica do Hospital Universitário de Pisa, conseguiu transplantar com sucesso, um fígado proveniente de uma dadora com mais de 100 anos. É a primeira vez na história, que um fígado provém de uma pessoa centenária.